quarta-feira, 24 de abril de 2013

Respirar você


Ela já nem esperava encontrar alguém que valesse um verso de seus poemas ordinários.  Andava por aí, cheia de olheiras, repleta de vazios. Desilusão era seu codinome. Para o amor, uma indigente.


Não há como definir o porquê de amar.  Não é pelo gosto musical em comum, tampouco pela paixão por leitura. Ele pode colecionar abadás de micaretas, curtir Sertanejo Universitário; ela gastar grana em pijamas vagabundos, livros que talvez nem leia e ouvir Blues antes de dormir.
Talvez nem nos desgostos haja congruência. Ele pode odiar a chuva, café e salada; ela, o sol, leite com groselha e viver de dieta.

 _Aqui vocês falam engraçado. Puxam o “r”.
 _Você vive no meio do mato, onde a porcaria do seu 3G nem funciona, amor!

É, mas quando estão sob o mesmo teto ou cobertor -  entrelaçados - o clima, o tempo e o lugar não faz a menor diferença. Ainda que ela sinta frio e ele reclame o tempo todo de estar quente.

_ Vai mais pra lá, amor.
_ Estou na beiradinha.
_ Deita aqui no meu peito.
_Se doer seu braço você me avisa?

Ele implica com as fotos dela no Instagram e dos comentários e elogios engraçadinhos que ela recebe. Questiona cada sujeito a cada curtida.
Ela se irrita ao ter que repetir a mesma pergunta enquanto ele presta atenção no jogo daquele timinho besta que ela detesta. Quer saber quem é nova fulaninha que “...agora são amigos” no facebook.
No fundo nunca se sabe definir tal magnetismo. Sentimos sem querer e querendo. 
Mesmo que não seja tão sereno quanto pareça. Aliás, por vezes perturba e tortura. Principalmente quando o orgulho é bicho de estimação de ambos. Ou quando o ciúme até do rastro do cheiro do outro, deixado entre os corredores, cria rusgas entre eles.

_Odeio o seu passado.
_ Mas eu não pegava todos os meus amigos. Ah, eu mal tenho amigos...!

E quando é que o amor surge? Quando não se espera? Quando se cansa de buscar sua outra metade?  
É...  Talvez ele chegue quando estiverem desprevenidos, trajando um moletom ou criando frases curtas no twitter.


 Encontrar alguém inteiro é coisa de gente grande. Alguém inteiro tem habilidade pra fazer regenerar as deformidades daquilo que o outro costumava chamar de coração.


_Eu moraria dentro de você...
_Eu te amo! Diz ela, baixinho no ouvido dele.


Para o dono dos olhos azuis mais lindos que já vi. 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Eram 140 caracteres

Em meados de 2009, vagando pelos corredores do twitter, esbarrei com alguém especial.
Um perfil inusitado, singular.
Era um conterrâneo, só podia ser gente boa. rs
A embriaguez da dor e do amor, com rompantes de indignação, trajavam um corpo tatuado.
As brilhantes ideias ocupavam uma cabeça cabeluda.
E apesar de todo o estereótipo 'áspero', era um chorão de carteirinha. (Quase uma mulher na TPM.)
De contato a com-tato, o que era uma amizade virtual passou ser uma necessidade na vida real.
Eu havia ganhado um amigo, de verdade.
Mesmo cheio de dor, esteve ao meu lado nos piores momentos da minha vida.
Sem menosprezar o que eu sentia.
Abrindo meus olhos, estendendo as mãos.
Era o afago e o puxão de cabelo. O tapa na cara que muitas vezes a vida teve dó de me dar.

Escrever a um autor que dispensa o rótulo de poeta -embora seja um dos melhores que já li- seria um desafio. Conviver com ele poderia ser um desafio. Eu poderia me sentir menor por saber menos, por ser menos intima das letras do que ele. Por desconhecer certas soluções. Mas não. Não é assim.
A nossa distância intelectual não me retrai. Não reticencia nosso contato.
Há sintonia e entrega em nossa amizade. Não há condições para existir.
O choro compartilhado, a garrafa e a taça de vinho, a lata de Caracu, os livros do Bukowski...
As madrugadas no Whatzapp, nos bares, nos postos de gasolina ou no portão da minha casa.
Nas vezes em que o coloquei entre meus amigos, e o vi mandá-los tomar em seus respectivos cus.
O amigo que não se cala, o autor que não se reprime e grita suas dores no papel.
Às vezes se recolhe. Se recolhe e teima que não há o que ser feito.

Sua constante dor ainda não partiu. Fragmentou-se.
O sufoco o inspirou e as lágrimas mancharam o virgem papel.
E então, a poesia se materializou: Seu livro, finalmente, impresso.
Eis o derrame do seu sentir:



O autor que transborda, ultrapassou a quantidade de poemas que previu publicar, e o que, inicialmente, eram pra ser 69, resultaram em 102.
O retrato do autor, será a companhia providencial em noites mal dormidas aos que morrem um pouquinho, todo dia, por amor.

O livro está à venda no link abaixo. E não é pelo lucro do autor que vos indico- a cada livro comprado o Felipe Voigt recebe o preço de uma cervejinha do boteco da esquina, apenas- é pelo fabuloso conteúdo e pela admiração e consideração ao amigo que sempre me emprestou o ar quando me faltou. E claro, para mantê-lo ébrio e estimulado a nos presentear com os seus escritos sensacionais.

Clique aqui para comprá-lo pelo site da Perse... (O livro, cacete! O autor ainda não está a venda.)

Sou testemunha da sua dor e do seu amor e hei de vê-lo satisfeito. Brindemos, pois, Querido Ogro!

Ps: Com o lucro do meu exemplar adquirido, me pague uma cerveja. Grata!




terça-feira, 20 de março de 2012

Outonar

E há de florir novamente.



Seja amena, menina.
Assim como fazem as plantas em época de outono, economize suas energias.
Deixe que o vento leve sorrisos e folhas amarelas.
Seja leve!
Por mais que a amenidade não seja assim, tão amiga de quem flerta com as letras.
Deleite.
Talvez a inspiração venha entre um bocejo e outro, depois de um desses cochilos à tarde, do mês de Abril.
Descanse!

E que na estação em que as folhas deixam seus galhos, deseje que máscaras toquem o chão.
Que as pessoas possam despir-se da hipocrisia.


Almas hão de ficar nuas.
Acredite!

Só não perpetue os excessos e saudades que sufocam-te.
Deixa cair...
Pois mais valem as flores murchas e as folhas secas ao chão a um fruto podre no galho.

quinta-feira, 1 de março de 2012

[C]ais




Exausta em afundar-se em mares desconhecidos,
Mergulhar em céus nublados e sentir-se âncora dela mesma
Tentou emergir-se de uma maneira que pudesse respirar
Já não temia as investidas mais profundas, nem as segundas intenções
Temia as primeiras,
o beijo sincero e a paixão irrefutável.
Temia perder o fôlego, de novo...
Ainda assim, não podia permanecer ali, no raso
Em seu porto inseguro
Viver superficialmente nunca a deixara satisfeita
E então, num dia de vento,
bons ventos
Ela encarou o espelho,
Aprisionou os seus medos
E foi fazer um novo lema
Deixou em terra uma saudade,
Ajeitou o leme, levantou suas âncoras e partiu
Partiu em busca de outro abraço que a aportasse novamente.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Pretérito perfeito






Meu presente não é tão doce. Chega a ser um quase-meio-amargo.
Não vem envolto sobre laços. Talvez alguns nós que eu tento desatar, todos os dias, antes de dormir.
Me pego no gerúndio, pensando, lembrando, chorando.
Ouvindo minha playlist.
Aquelas mesmas canções que outrora me arrancavam suspiros e risinhos bobos do canto da boca, só por imaginar a sua em todas as partes do meu corpo.
Vou mantendo a face em choque térmico. Ora uma lágrima quente, ora o suor frio.
E vou me adaptando a viver sem o meu adaptado.
Sim, você era algo inventado que eu me dei ao luxo em acreditar.
Me preencheu de uma maneira tão violenta, que me deixou dolorida e com um aperto no peito.

E essa ausência ocupa tanto espaço...

Reviro o passado, bagunço sem medo. Tem lâminas, pedaços quebrados de um espelho qualquer.
Sangro-me!
Mas continuo. Continuo procurando por algo. Um cantinho onde eu possa te guardar.
E mesmo que o tempo não tenha corrido, eu manipulo-o. Afasto as outras dores e então está perfeito.
Tenho um lugar pra você!
Sob uma rosa vermelha, eu te encaixo no frio chão, chamado passado.
Enquanto eu engulo o choro só consigo sintetizar uma fala:
Quando o pretérito é perfeito, o presente se chama saudade.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Entre a dor e o disfarce


A procura de alívio, vou-me definhando
A vida quer de novo apanhar-me
embora só tenha me batido

E o cansaço nos ombros pesa
a dor de quem doa demais
a dor de não encontrar quem me encontre


Amordaço o amor em busca de algum horizonte
e entre a dor e o disfarce
me julgam sem me enxergar

-isso são dores, são dores de amores,
mas há de passar

E pelo estado em que me veem transpassar
ainda conseguem pedir para que eu espere
e trazem meio fôlego
enquanto eu o trago lentamente.


Estiro-me depressiva e exaurida
condenada pela doença que não depende de tempo
tampouco espaço para deixar-me

Me dê mais uma pílula
e uma dose de vida
sem gosto de lágrimas

Já estou vestida das dores
abandonei o disfarce
que já não me serve mais.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Eu sinto que sei


Odeio a mania chata que as pessoas têm de avaliar o que você se sente.
Eu sei o que sinto, e sinto, ainda, necessidade de afirmar.
Eu sei que é amor! Eu sei que é amor porque não me foi auto imposto.
Porque amar não é uma regra, e, se assim fosse eu não faria questão.
Eu sei que o amo porque eu desafiei a vida e sua mania suja de esfregar na minha cara quantas vezes eu a quebrei, dizendo que eu não teria colhões para amar novamente.
Eu sei que é amor porque venci os meus medos, sem guerras. Eu não os enfrentei.
Eu simplesmente pedi ao medo que fosse embora porque alguém mais forte havia assumido o comando.
Ele, o amor!

Sim, eu o amo.
O amo porque meus olhos conversam com os dele.
Porque a sinestesia é explícita quando minha pele arrepia ao som da sua voz.
É amor, eu sei, porque a ausência presente não o apagou nem minguou o que eu sinto
.
Sei que é amor, porque é longe de ser perfeito e mesmo com todos os defeitos ele não se esvai.
É amor, porque foi ele quem me encontrou e eu não pude fugir.

É amor, porque é clichê, mas não é enfeitado, nem encantado.
É áspero e dolorido e ainda assim não me desencanto.
É torto, meio abnegado, é apegado, mas é amor!
É o jeito que eu soube amar.

E que seja errado, surrado, borrado.
Projetado ou idealizado.
Eu sinto e ponto!

Eu sei...
É amor que eu sei!
Porque mesmo duvidando do seu, eu ainda não sei desamar.