Ela já nem esperava encontrar alguém que valesse um verso de seus
poemas ordinários. Andava por aí, cheia
de olheiras, repleta de vazios. Desilusão era seu codinome. Para o amor, uma
indigente.
Não há como definir o porquê de amar. Não é pelo gosto musical em comum, tampouco
pela paixão por leitura. Ele pode colecionar abadás de micaretas, curtir
Sertanejo Universitário; ela gastar grana em pijamas vagabundos, livros que
talvez nem leia e ouvir Blues antes de dormir.
Talvez nem nos desgostos haja congruência. Ele pode odiar
a chuva, café e salada; ela, o sol, leite com groselha e viver de dieta.
_Aqui vocês falam engraçado. Puxam o “r”.
_Você vive no meio do mato, onde a porcaria do
seu 3G nem funciona, amor!
É, mas quando estão sob o mesmo teto ou cobertor - entrelaçados - o clima, o tempo e o lugar não
faz a menor diferença. Ainda que ela sinta frio e ele reclame o tempo todo de
estar quente.
_ Vai mais pra lá,
amor.
_ Estou na
beiradinha.
_ Deita aqui no meu
peito.
_Se doer seu braço você
me avisa?
Ele implica com as fotos dela no Instagram e dos
comentários e elogios engraçadinhos que ela recebe. Questiona cada sujeito a
cada curtida.
Ela se irrita ao ter que repetir a mesma pergunta
enquanto ele presta atenção no jogo daquele timinho besta que ela detesta. Quer
saber quem é nova fulaninha que “...agora são amigos” no facebook.
No fundo nunca se sabe definir tal magnetismo. Sentimos
sem querer e querendo.
Mesmo que não seja tão sereno quanto pareça. Aliás, por
vezes perturba e tortura. Principalmente quando o orgulho é bicho de estimação
de ambos. Ou quando o ciúme até do rastro do cheiro do outro, deixado entre os
corredores, cria rusgas entre eles.
_Odeio o seu passado.
_ Mas eu não pegava
todos os meus amigos. Ah, eu mal tenho amigos...!
E quando é que o amor surge? Quando não se espera? Quando
se cansa de buscar sua outra metade?
É... Talvez ele chegue
quando estiverem desprevenidos, trajando um moletom ou criando frases curtas no
twitter.
Encontrar alguém
inteiro é coisa de gente grande. Alguém inteiro tem habilidade pra fazer regenerar
as deformidades daquilo que o outro costumava chamar de coração.
_Eu moraria dentro
de você...
_Eu te amo! Diz
ela, baixinho no ouvido dele.
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